terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Convocação: servir na “obra de Deus” ou “servir a Deus” como estilo de vida?

por Analzira Nascimento



O paradigma dominante da nossa prática missionária considera como “vocacionado” somente o membro de igreja que sente a inclinação para ser missionário ou aquele que deseja exercer um ministério eclesiástico, especialmente o pastorado.
Ao constatar esta realidade, uma inquietação toma conta do meu coração, fazendo-me admitir que, em nossas igrejas, a grande maioria de cristãos sinceros também vive esta dicotomia entre “servir a Deus” e ser um vocacionado para o trabalho “na obra de Deus”. 
Entretanto, quando falamos sobre a Missão de Deus (missio Dei) para este mundo, duas questões devem ser consideradas em relação à “vocação para a missão”: Em primeiro lugar, alguém “vocacionado para a missão”, necessariamente, não faz referência apenas a um missionário com formação teológica, que atua mediante a proclamação do evangelho. "Vocacionado para a missão" também pode acolher a ideia de um profissional que decidiu dedicar seu trabalho todo em algum campo missionário ou, ainda, de um profissional liberal que consagrou sua vida a Deus, transformando seu gabinete de trabalho em um campo missionário. 
Em segundo lugar, quando se fala de “missões” em nosso universo evangélico, percebe-se que a nossa abordagem e as nossas metodologias em geral enfatizam o “fazer” e não o “ser”. Contudo, voltando a Palavra de Deus para analisar o verdadeiro sentido de vocação, constatamos que um dos primeiros chamados do cristão é para ser santo – todos somos “separados”. 
Cremos que todo filho de Deus é chamado para viver um estilo de vida que glorifique a Deus onde está, e com o que é, e também com o que faz. Temos ouvido muitos depoimentos de que “esta descoberta” foi libertadora para as suas vidas. Foi um “divisor de águas”, em sua existência, descobrir que podem participar da Missão de Deus para este mundo, mesmo não estando envolvidos diretamente numa atividade religiosa. 
Refletindo sobre estas questões e buscando respostas na Missiologia atual foi que as duas Juntas Missionárias (JMN e JMM) organizaram o “SIM, todos somos vocacionados”, de 7 a 10 de junho deste ano de 2012, em Sumaré/SP, tendo como objetivo contribuir para que cada congressista descobrisse a sua vocação, e vislumbrasse como poderia servir no Reino, glorificar a Deus com suas vidas, no lugar em que foram colocados. Uma das frases-tema do evento foi: “não estou no mundo a passeio – tenho uma missão a cumprir”. 
Nas avaliações dos participantes, confirmamos que muitos jovens viviam com as dúvidas sobre as quais conversamos neste artigo. Muitos disseram que o congresso os ajudou a “tirar um peso das costas”. Os resultados foram excelentes, e ainda fomentaram variadas iniciativas entre diferentes grupos espalhados pelo Brasil. 
Estes “ecos” pós-evento vieram fortalecer nossa certeza de que existe a necessidade de rever e reformular nossos conceitos e estratégias com “vocacionados”, voluntariado e eventos. Neste sentido, nossa proposta é a de ter um espaço específico para trabalhar com a temática VOCAÇÃO, tanto no âmbito das Juntas Missionárias como de outros segmentos da CBB, desenvolvendo formas de trabalho multifacetado, interdependente e com transversalidade entre os diferentes setores. 
Desta forma, a frase - “Deus, não me deixe de fora do que o Senhor está fazendo no mundo!” – se tornou um mote para muitos e, especialmente, para quem está em fase de definição de vocação. Ela traz uma releitura do sentido da nossa vida, da nossa missão neste planeta. Muito mais que uma frase, um movimento em direção ao outro. Um estilo de vida missional.
Quando cada cristão entender que nós não "fazemos missões", nós "estamos em missão", e quando cada cristão descobrir sua parte no Reino de Deus, teremos vocacionados em todos os segmentos da sociedade, não apenas nos campos missionários propriamente ditos. Teremos pessoas servindo pessoas seja num projeto missionário, seja como pastor de uma comunidade de fé, seja no chá da tarde com o vizinho; ouvindo; mais do que falando, vivendo o evangelho. Quando todos entendermos que todos somos vocacionados, todos seremos melhores missionários e realizaremos trabalhos de excelente qualidade onde Deus nos colocar.
Missionária Analzira Pereira do Nascimento
Coordenadora Geral do JMM Jovem
03/09/2012


Analzira Pereira do Nascimento, Missionária, Doutoranda em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo, Enfermeira, Coordenadora do JMM Jovem e Presidente da APMB, Associação de Professores de Missões no Brasil.
Biografia
Analzira Pereira do Nascimento

É Missionária, doutoranda em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo, e mestre pela mesma instituição (02/03/2005), onde defendeu dissertação sobre Pastoral em situação de conflito e crise na guerra civil de Angola, no período de 1985 a 2002. É enfermeira e bacharel em Teologia pela Faculdade Teológica Batista de São Paulo (1980). Atualmente é a Coordenadora Geral do JMM JOVEM, coordenou o Projeto Radical - Voluntários Sem Fronteiras, da Junta de Missões Mundiais, da Convenção Batista Brasileira, que tem como objetivo recrutar, selecionar, treinar e enviar jovens vocacionados para trabalharem como voluntários junto a comunidades africanas e latino-americanas com baixos indicadores sociais. Tem experiência na área de Missiologia, com especialização em Missão Integral, atuando em projetos com ênfase na missão encarnacional, transformação de realidades e comunidades, missão em situações de crise, necessidades do mundo e juventude com propósitos. Presidente da Associação de Professores de Missões no Brasil – APMB
O versículo da Analzira é Atos 20:24 "Em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus."


A oração: "Deus, não me deixa de fora daquilo que o Senhor está fazendo no mundo!"

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Gostei e resolvi compartilhar.

A.Barros

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